Metodologia

Cenários são histórias que descrevem o que poderia acontecer no futuro, e não o que acontecerá (previsões) ou o que deveria acontecer (recomendações). Construir cenários é um exercício de suspender nossos desejos e nossas respostas, olhar para além de nossas previsões e projeções e nos abrir para pensar uma variedade de futuros possíveis. Os cenários, por serem resultado de um processo coletivo de perspectivas diversas, oferecem a vantagem de apoiar os debates sem comprometimento com uma determinada posição. Os cenários nos permitem lidar com o fato de que, embora não possamos prever ou controlar o futuro, podemos trabalhá-lo e influenciá-lo.

A abordagem de Planejamento de Cenários Transformadores é uma forma criativa e construtiva para atores de diferentes áreas e setores criarem juntos histórias compartilhadas sobre futuros possíveis. Trata-se de uma maneira de destravar e superar situações complexas e polarizadas.

O planejamento de cenários transformadores tem sido usado nos últimos 20 anos em contextos diversos e complexos. Por exemplo, na transição do apartheid na África do Sul, nos momentos de maior conflito na Colômbia, no pós-guerra civil na Guatemala e na questão das drogas nas Américas num momento de grande incerteza e debate.

A construção dos cenários segue um processo rigoroso, que é, ao mesmo tempo, analítico e criativo. A equipe começa por identificar sua agenda estratégica, ou seja, quais são os temas mais importantes quando olhamos para a Educação Básica no Brasil. Em seguida, o grupo define o horizonte dos cenários. Depois, o grupo faz um mapeamento das forças motrizes. Essas forças, que podem ser sociais, tecnológicas, ambientais, econômicas e políticas, existem no contexto em que a Educação Básica se encontra. Qualquer mudança em uma força motriz pode ter um grande impacto nos temas da agenda estratégica. Após identificar as forças, a equipe as classifica em dois eixos: previsibilidade e impacto. Na construção dos cenários, o que mais importa são as forças que têm alto impacto. Uma vez definidas as forças de alto impacto, a equipe diferencia aquelas que são facilmente previsíveis e as que são imprevisíveis. As forças previsíveis, chamadas de certezas, passam a compor todos os cenários. As forças imprevisíveis, ou incertezas, diferenciam um cenário do outro.

Considerando as certezas e as incertezas, os participantes depararam com mais de 50 cenários possíveis, tendo o desafio de agrupar e selecionar as características mais importantes. No processo de escolha, eles se orientaram por critérios que garantissem que os cenários inspirassem estratégias, decisões e ações no futuro. Assim, os cenários deveriam ser:

  • relevantes: abordar questões importantes para quem tem interesse no tema;
  • desafiadores: ajudar as pessoas a olhar para opções antes impensáveis ou imperceptíveis e desafiar a maneira atual de pensar sobre a realidade;
  • plausíveis: ser razoável acreditar que eles podem ocorrer, pois estão baseados em fatos e possuem uma lógica;
  • claros: fáceis de lembrar e simples de descrever. É possível distinguir as particularidades de cada história.

A criação de histórias que sejam, ao mesmo tempo, plausíveis e desafiadoras não é uma tarefa simples. Criar histórias que qualquer um já imaginou, ou poderia imaginar sozinho, não justifica um processo como esse, envolvendo dezenas de pessoas e muitas horas de trabalho. A riqueza das histórias que você lerá está na capacidade que revelam de se aproximar de limites da plausibilidade sem, entretanto, cruzar a ponte para o reino do absurdo ou do impossível.

A equipe, após muito debate, conseguiu chegar a quatro cenários distintos entre si. O passo seguinte foi imaginar uma série de fatos que aconteceriam entre 2015 e 2032 para que cada cenário se realizasse em 2032. Esses “fatos” são imaginados, porém baseiamse em dados e casos reais que serão apresentados ao longo do relatório. Tecidas nas narrativas, foram inseridas citações (em itálico) das entrevistas conduzidas no início do processo, que dialogam com o conteúdo das narrativas.

A Equipe de Cenários os batizou com nomes de pássaros para representar as características deles e para serem mais fáceis de memorizar. A equipe decidiu chamar os quatro cenários com nomes de pássaros encontrados no Brasil. Foi escolhida a ideia dos pássaros por ela trazer uma dimensão simbólica, por ter neutralidade, sem carregar um juízo de valor, além de ser instigante, promovendo a curiosidade.

Após as oficinas, o relatório de cenários foi escrito pelo editor de cenários em conjunto com a equipe do Instituto Reos, que compartilhou o documento em várias ocasiões com a Equipe de Cenários e recebeu sugestões da equipe. O Cenpec realizou uma revisão jornalística e, então, foi criada a versão final do documento. Sendo assim, o relatório não reflete a opinião individual dos membros da Equipe de Cenários nem das instituições em que atuam.

Teoria de Mudança

Em parceria com a Move – Avaliação e Estratégia em Desenvolvimento Social, foi criada a Teoria de Mudança para os Cenários Transformadores para a Educação Básica no Brasil. O ponto de partida para um processo de cenários transformadores é o reconhecimento de que há uma situação inaceitável ou insustentável, que um ator isolado não pode mudar o sistema, que mudanças diretas são impossíveis ou insuficientes e que existe vontade para mudar a realidade. Os atores incluem o Grupo Convocador, que mapeia e convida pessoas para participar do processo, um Grupo Financiador, que contribui para o projeto financeiramente e com participação no processo, os entrevistados (71), a Equipe de Cenários (41) e a Equipe Facilitadora. Os passos do processo são:

  1. definição e convocação do grupo;
  2. observação e aprofundamento no entendimento do sistema;
  3. construção e validação do conjunto de cenários;
  4. divulgação e reflexão sobre os cenários;
  5. ação para transformar o sistema.

Os cenários contribuem para um olhar de longo prazo e o debate público e inspira, estimula e informa estratégias, decisões e ações no campo da educação no Brasil.

Infográfico da Teoria de Mudança
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